O amor pede silêncio


Acho lindos esses amores escancarados, que são cuspidos na cara de quem quiser ver. 
Acho lindas todas as manifestações públicas de afeto, mas acho ainda mais lindo o sentir. 
Do que adianta sorriso no rosto, sentimento exposto e coração frouxo? 
O amor é um sentimento que não se explica, se aplica apenas, todos os dias. 
Você o faz crescer, independente de anunciá-lo aos quatro cantos e aos sete ventos. 
Amor é quase um sussurro, um burburinho bom, causado pelo pensamento e pelo coração, na mais repleta conexão. 
Então, prefira amar, ao invés de proclamar. Ninguém ama com tanto barulho. O amor pede silêncio absoluto. 
É neste ambiente calmo e acolhedor que ele cresce, repentinamente, engolindo qualquer som que seja mais forte que o danado tum-tum-tum, que só um bom coração sabe repetir com clamor. 
Portanto, faça silêncio e escute o seu coração.

Do que já foi...


Você não sabe, mas essa não é a primeira vez que te escrevo. Teve uma vez que te vi sem querer, você usava aquela camisa branca que te dei num natal passado e falava ao telefone. Parecia até um tanto nervoso, preocupado, sei lá. Naquela hora eu senti vontade de ninar você. Queria te por no colo, te encher de beijos e cafunés e te irritar com meus cabelos finos, passando com leveza em seu rosto e te fazendo cócegas, mas sequer me mexi. Sei lá, acho que não queria – de fato – que você me visse. Eu lhe escrevi por tantas vezes e jamais consegui entender de fato o que eu queria com essas linhas tortas e pesarosas. A gente sempre foi um casal meio estranho, virado no avesso e, por tantas vezes, eu quis segurar o teu queixo e berrar a minha insatisfação, mas nada fiz. Preferi guardar, preferi remoer cada espaço em branco que hoje me condena nestas frases que já morreram. É uma verdade um pouco estranha, mas eu ainda amo você. Eu sei que fui eu quem pontuei nossa história, eu sei que fui eu quem pôs um único ponto entre a gente e você não sabe quantas vezes eu tentei transformar em reticências essa nossa certeza. Todas as vezes que te vejo, sem querer, todas as vezes que te escrevo, por querer, desejo que o nosso final seja outro. Parece um bocado errado ver a gente longe. Eu escrevo, me martirizo, me mantenho estática nesta cadeira nada confortável, aquela velha cadeira que você adorava. E me lembro da tua barba por fazer, roçando minhas bochechas, lembro do teu cheiro, das tuas mãos apertando levemente minha clavícula e suspiro. É que o amor, meu bem, não se desfaz como a tinta que aos poucos perde a cor.
- daquela parceria linda com a metadinha Maria Fernanda .